Tudo começou no final dos anos 60 na ilha paradisíaca de GOA, Índia. Nessa época ainda não existia o Trance...os frequentadores das praias de Goa, maioria formada por hippies e rock stars começavam a escutar Techno, enquanto isso na Inglaterra, o que sacudia a galera era o Acid House, em Detroit, a Disco, e por causa dos hippies, ainda restavam algumas influências psicodélicas herdadas das músicas dos anos 70 (a exemplo do Pink Floyd). Foi aí que as pessoas em Goa descobriram os efeitos da Acid Music e começaram a desenvolver e incrementar esse estilo, misturando e sendo muito influenciados pelas mais diferentes expressões da música eletrônica... somadas à psicodelia do Rock setentista.
Goa Gil, considerado por muitos o Pai do Trance, estabeleceu as primitivas do fenômeno Goa Trance (Goa Trance é o gênero que deu origem ao que chamamos hoje de Psy Trance), que originam-se em antigas práticas tribais. "Procuro me valer da experiência da música e da dança trance para iniciar uma reação em cadeia no plano da consciência, já que desde o início dos tempos a humanidade tem se utilizado da dança e da música como formas de comunhão com o espírito da Natureza e do Universo". Seu objetivo é redefinir os antigos rituais tribais, re-inserindo-os no século 21. Gil cresceu no meio da cena musical de São Francisco (EUA) durante a década de 60, tendo partido para uma jornada na Índia em 1969. Tendo sido um músico durante toda a sua vida, e também se dedicado intensamente ao Yoga com Gurus no Himalaia, ele tentou unificar ambos (Música & Yoga) em um único Espírito, representativo de nossa época. Essa tentativa resultou nas festas Goa Full Moon e também no seu conceito de "Redefinição dos Antigos Rituais Tribais para o Século 21", utilizando o contexto de uma festa Goa como recurso para amplificar a consciência dos participantes através da dança.
Ray Castle, nascido em Auckland/Nova Zelândia, é junto com Goa Gil, um dos inventores do Goa Trance. Discotecou em festas em Goa, na Índia, no Japão e na Europa entre 1986 a 1994. Se intitula como: um artista das ciências ocultas e da nova mídia, cirurgião cibernético, shaman do Techno, teólogo do Trance, adido astral, eletro-alquimista existencial e meta-mágico. Modesto ele hein?! rs...Da mesma forma que Goa Gil, Ray Castle também encontra uma clara ligação entre o Goa Trance e as culturas tribais. Da mesma maneira que o aborígene, de épocas imemoriais, que contemplava o planeta, batucando com gravetos, extraindo sons da mais primitiva das flautas, o didjeridu, as festas de Trance a céu aberto, verdadeiros rituais, seguem esta mesma linha de comunhão primordial.
Ainda para Castle, "Existe uma qualidade transcendental nessas festas, que as habilita a serem eventos psíquicos de natureza bastante transformadora, catalizando uma união da mente coletiva, que é experimentada independentemente de modismos, sexo, ego e comércio." (ao menos na Índia, onde eram gratuitas, com exceção das propinas pagas aos policiais...). Ele prossegue "Vejo meu papel como sendo aquele de um intermediário que dirige as freqüências e as batidas para que massageiem e ativem a inconsciência e a superconsciência, através do transe e da dança, que se traduzirá numa forma de catarse eufórica coletiva".
O DJ como "shaman" é uma metáfora sempre recorrente nos textos a respeito de Goa Trance. Também, é aplicada aos artistas que criam as músicas. No release da antiga Blue Compilation (fora de catálogo), há a sugestão de que, os compositores "Vibram seus crânios, suavemente massageando e revitalizando o cérebro, eliminando as teias de aranha do plano físico"... E mais além "Com sua terapêutica medicina vibracional, eles nos transportam para megaversos de prazer aural".
O ideário e resultantes aspirações Goa, antecedem o Goa Trance, que não nasce como um estilo musical autóctone, ao contrário, é o resultado de um caldo de cultura cujas origens são tão antigas quanto a própria Humanidade.
Assim como Goa influenciou o formato inicial do Trance, as localidades onde o estilo foi florescendo também o impactaram. A Inglaterra, um dos berços ocidentais do Trance, produziu uma forma inteligente e sofisticada da nova música. A Alemanha, outro berço ocidental do Trance, trazia cravada na sua memória o pioneirismo da primeira grande leva de música eletrônica. Estes dois países podem ser considerados os pontos focais do Trance na Europa, de onde posteriormente o estilo se espalhou rumo aos quatro cantos do planeta.
Em todas as localidades em que aportava, o Trance levava não só sua música fascinante e hipnótica, mas todo um conceito fundamentado em conhecidos princípios humanistas (Paz, Amor, União, Respeito...) – afloravam na Holanda, França, Itália, Suécia, Dinamarca e outros países da Europa. Locais aparentemente inusitados, como Israel (atualmente responsável por 50% das produções de Psy/Goa Trance), Austrália, Nova Zelândia e, posteriormente, México, África do Sul e Brasil, também foram muito receptivos ao processo que, sem dúvida, em diversos aspectos estreitava seus paralelos com a visão hippie dos anos 60.
Na década de 90 o Goa Trance deu origem ao Psy Trance, ritmo com variações entre 138 a 150 bpms. Esses 2 gêneros são bastante parecidos e até se misturam. A sutil diferença entre eles é que o Goa tem elementos da música indiana, e também, um som mais orgânico, natural, enquanto o Psy apresenta um som mais sintético, com linhas de baixo mais rápidas e percursão mais forte.
Não tenho certeza, mas o pessoal diz que o Psy Trance chegou ao Brasil no verão de 1994 numa festa em Arraial (só podia ser), trazido por 2 gringas. O pessoal ficou completamente deslumbrado pela atmosfera envolvente, com decoração incrivelmente simples, compostas apenas de luzes negras e quatro painéis, mas que criava, na medida certa, o complemento para aquela música.... e que música! A sensação de ter encontrado algo que se está procurando há muito tempo foi predominante naquela festa. Foi aí que as raves começaram a surgir aos montes em Arraial, Trancoso, Caraíva, e depois no Brasil todo.